O Império Napoleônico e o Congresso de Viena
A
consolidação das conquistas burguesas
Em
1799, a golpe de 18 Brumário levou ao poder Napoleão Bonaparte (1769-1821), a
general mais brilhante da França. Sua ascensão pós fim aos distúrbios provocados
pela "esquerda" igualitária e pela reação monarquista, assegurando a burguesia a
desejada estabilidade política.
Uma Constituição, decretada em dezembro de
1799, previa que a poder Executivo da Republica Francesa deveria ser exercido
por três cônsules: Napoleão Bonaparte, Cambaceres e Lebrun. O primeiro cônsul,
Napoleão, tinha o poder de propor leis, nomear a administração, controlar o
exército e conduzir as relações exteriores. Cambaceres auxiliava Napoleão nas
questões jurídicas e Lebrun nas finanças publicas.No entanto, nenhum dos dois
cônsules tinha poder de veto sabre as decisões de Napoleão.
Em 1802, um plebiscito popular permitiu que
Napoleão exercesse o cargo de cônsul vitaliciamente. Pouco tempo depois, em
1804, outro plebiscito deu-lhe permissão para transformar-se em imperador. Na
Catedral de Notre-Dame, Napoleão I recebeu a coroa imperial das mãos do papa Pio
VII e colocou-a sabre a própria cabeça, em um gesto de não submissão do poder
político ao poder religioso.
A presença do papa na coroação indicava que
um relacionamento amigável voltava a existir entre a França e a Igreja Católica
graças a concordata assinada em 1801 com a Santa Sé. Foi um triunfo importante
do então primeiro cônsul Napoleão Bonaparte, pois eliminou uma área de atrito
existente desde 1790, quando a Assembleia Constituinte francesa promulgou a
Constituição Civil do Clero. Nos termos da concordata, os bispos passaram a
receber pensões do governo e a ser nome a dos pelo poder público,
ficando
sob o
domínio político do Estado.
As reformas implementadas por Napoleão no
consulado e na fase inicial do império consolidaram de maneira irreversível a
ordem burguesa. O Código Civil, de 1804, representou um dos alicerces mais
sólidos dessa ordem. A autoridade do pai sobre a mulher e os filhos e do patrão
sobre os empregados, questões relacionadas ao casamento e a herança,todos esses
aspectos foram regulamentados segundo os interesses da burguesia. O Código
inspirou diversos Estados europeus e da América Latina, que adotaram seus
princípios e chegaram a reproduzir algumas de suas disposições.
Como estadista, Napoleão ratificou a
redistribuição de terras levada a efeito pela revolução. Reformou o sistema
tributário e fundou a Banco da França com o objetivo de exercer maior controle
na circulação de capitais. Obras públicas como drenagem de
pântanos,
Construção de pontes e
redes de estradas e canais foram realizadas sobretudo com objetivos militares,
mas também para conquistar a apoio da burguesia.
Na educação, Napoleão instalou escolas
públicas por toda a França. Além disso, organizou a educação secundária em bases
rígidas, quase militares; fundou escolas para a formação de professores;
transformou a Escola Politécnica em um estabelecimento militar; subordinou as
escolas técnicas ao Estado e estimulou o ensino superior.
O essencial da política externa do imperador
foi traçado com o instrumento que permitira ao general Bonaparte abrir caminho
para o poder: a guerra. No periodo compreendido entre 1805 e 1809, a França
envolveu-se em uma série de conflitos contra Rússia, Prússia e Áustria. Em
questão estavam a defesa da soberania e dos interesses franceses na Europa e a
ambição pessoal de Napoleão. Vitorioso, o imperador impôs a criação de novos
Estados e destituiu os monarcas de vários países europeus, substituindo-os por
seus parentes e generais. Ao mesmo tempo, Napoleão passou a buscar acordos
"respeitáveis" com as monarquias tradicionais. Desejava, em especial, uma
aliança dinástica que referendasse a hegemonia francesa na Europa e lhe desse um
herdeiro para seu império, mas não logrou êxito. Napoleão chegou a desposar uma
filha do imperador da Áustria, Maria Luisa, mas jamais deixou de ser visto com
reservas ou franca hostilidade pelos soberanos absolutistas. O manto imperial
não impediu que eles o considerassem um usurpador - um soldado levado ao poder
pela revolução que executara Luís XVI e Maria Antonieta. Como resultado, até a
queda definitiva de Napoleão, em 1815, as guerras se sucederam, com poucos
períodos de trégua.
O
Bloqueio Continental
Apesar da bem-sucedida campanha continental,
Napoleão foi derrotado pela marinha britânica na Batalha de Trafalgar, em 1805.
A hostilidade entre França e Grã-Bretanha levou o imperador francês a impor o
Bloqueio Continental, um embargo econômico às Ilhas Britânicas. Segundo as
determinações do bloqueio, ficava proibida a comercialização de mercadorias
britânicas nos países do continente europeu. Napoleão acreditava que a
eliminação de seu maior concorrente daria a França o predomínio nos mercados
europeus.
O bloqueio, no entanto, não surtiu o efeito
esperado, e a medida converteu-se em uma faca de dois legumes, submetendo a
hegemonia francesa no continente a forte desgaste. Países neutros foram
hostilizados por ignorar o bloqueio. Outros sofreram ocupação e tiveram seus
soberanos afastados, como sucedeu à Espanha. As tropas francesas tomaram-se a
base de sustentação dos governantes impostos por Napoleão e, por isso, foram
odiadas pelas populações locais. Sem a mobilidade que lhes garantira tantas
vitórias, as tropas imperiais passaram a ser permanentemente castigadas por
grupos guerrilheiros. Na Espanha, em Portugal e em outras regiões da Europa, a
luta contra os franceses assumiu características de guerra
nacional.
Nesses conflitos, destacou-se a resistência
da Rússia. Assim como outras nações, esse país também desrespeitou o Bloqueio
Continental, levando Napoleão a reunir um exército de aproximadamente 600 mil
homens, em 1812, para invadi-lo.
A campanha da Rússia foi um desastre.
Napoleão obteve algumas vitorias e chegou ate Moscou. Ele encontrou a cidade em
chamas e aguardou a rendição do czar, mas esta simplesmente não ocorreu. A
espera resultou em um cruel pesadelo para as tropas francesas, uma vez que,
durante sua retirada da região, tiveram de enfrentar o terrível inverno russo. O
frio, as doenças, a fome e as guerrilhas causaram milhares de perdas. Dos cerca
de 600 mil soldados que deixaram a França, menos de 60 mil retornaram, doentes e
famintos.
A
queda de Napoleão
A derrota na Rússia abalou a credibilidade
de Napoleão unto a opinião pública francesa. O mito do jovem general que
conduziu seus soldados debilitados a vitória contra inimigos bem mais numerosos,
a serviço das monarquias absolutistas, só mais tarde seria reconstruído no
imaginário dos franceses.
Não se pode negar que Napoleão Bonaparte
consolidou as conquistas burguesas da Revolução de 1789. Mas ele também destruiu
o maior dos legados revolucionários: o sonho de igualdade, liberdade e
fraternidade. O depoimento de um contemporâneo à revolução ilustra bem a
decepção de muitos liberais com Napoleão:
"Bonaparte praticou uma
traição, pervertendo os poderes que lhe haviam sido confiados, para chegar a
subversão da República e a instituição de um despotismo militar em seu benefício
e no de sua família. Se ele houvesse exercido seus poderes honestamente para
estabelecer e fortalecer um governo livre em seu país, a França gozaria da
liberdade e do repouso. (JEFFERSON,
Thomas).
Explicações para o ocaso
napoleônico
Nos
últimos anos do governo imperial, as decisões de Napoleão seguiam caminhos
contrários aos ideais da revolução. Em 1808 foi instituída a nobreza imperial,
em vez da aristocracia aberta ao talento e ao mérito que rodeou Napoleão nos
tempos do consulado e no início do império. O estadista que reorganizou a
administração se viu obrigado a desperdiçar recursos e homens para sustentar os
tronos vacilantes nos quais colocara seus parentes.
As colheitas medíocres, nos últimos anos de
seu governo, resultaram em uma crise alimentar. O exército permaneceu fiel;
porém, as campanhas desastrosas na Península Ibérica e na Rússia enfraqueceram
moralmente os soldados. A opinião publica passou a
se
perguntar se a glória imperial valia o sacrifício da vida de tantos jovens
franceses.
Aproveitando-se da crise, Grã-Bretanha,
Áustria, Prússia, Rússia e Suécia organizaram uma coligação que venceu a França
em 1813, na Batalha de Leipzig. Em de 1814, Napoleão assinou o Tratado de
Fontainebleau, pelo qual abdicava do trono da França, recebendo em troca uma
pensão anual e a soberania sobre a Ilha de Elba. O governo Frances foi entregue
a Luis XVIII, irmão de Luis XVI, que confirmou as conquistas revolucionarias.
Concomitantemente, Napoleão tramava um plano para retornar ao poder. A
oportunidade surgiu em 1815, graças a insatisfação do povo francês em relação ao
novo governo. Napoleão fugiu de Elba e desembarcou no continente apoiado por
militares e pela população. Seu novo governo durou cem dias, uma vez que os
antigos inimigos trataram de formar uma coligação para liquidar o
imperador.
A ruína de Napoleão ocorreu com a Batalha de
Waterloo, na Bélgica (1815), quando um exército de ingleses e prussianos venceu
as tropas imperiais. Napoleão voltou a Paris e abdicou definitivamente do cargo
de imperador. Em seguida foi exilado na Ilha de Santa Helena, possessão
britânica no Atlântico, onde morreu em 5 de maio de 1821.
O
Congresso de Viena
Após a assinatura do Tratado de
Fontainebleau, em 1814, representantes das principais potências europeias -
Áustria, França, Prússia e Rússia - com o apoio da Grã-Bretanha, reuniram-se em
Viena, Áustria. O Congresso de Viena, como ficou conhecido o encontro, foi
interrompido durante o Governo dos Cern Dias e retomado após a segunda abdicação
do imperador frances, em 1815. O objetivo era restaurar as dinastias derrotadas
pelas tropas napoleônicas e restaurar o mapa da Europa. Mas a Europa
revolucionária logo manifestou sua voz.
A
reação dos conservadores
Com a exceção do rei e da rainha da França
durante o processo revolucionário, ocorreu a ruptura entre o novo governo
francês e os soberanos europeus, que viam na Revolução Francesa uma ameaça de
contagio e um perigo para a integridade de seus Estados. Decididas a sufocar a
revolução, as monarquias se uniram contra o novo regime. Primeiro veio a
declaração de guerra da Áustria, seguida pela Prússia, Rússia, Holanda, Espanha,
Sardenha e Grã-Bretanha. As alianças contrarrevolucionárias alcançaram a vitória
em 1814, com a queda de Napoleão e o inicio das reuniões do Congresso de
Viena.
Os diplomatas reunidos na capital austríaca
tinham como objetivo estabelecer uma paz duradoura na Europa que impedisse as
guerras e revoluções e restaurasse a estabilidade abalada pela Revolução
Francesa e pelas guerras napoleônicas. Para isso, tornava-se necessário
restaurar as fronteiras europeias de 1789. Na verdade, a diplomacia legitimista
estava basicamente preocupada com os direitos dos reis; o ideal, para ela, seria
eliminar a influência das ideias liberais que acompanharam a Revolução
Francesa.
No entanto, conscientes de que seria
impossível ressuscitar toda a política do Antigo Regime, ate os políticos mais
conservadores reconheceram a urgência de elaborar constituições que garantissem
um mínimo de direitos políticos e sociais para a coletividade.
O processo de reconstrução política da
Europa teve inicio com a entrega do trono frances a Luis XVIII, irmão de Luis
XVI, assassinado durante a Revolução Francesa. A França perdeu grande parte dos
territórios conquistados por Napoleão Bonaparte e foi obrigada a pagar uma grande indenização
ao longo de cinco anos, ficando sob ocupação até quitar a dívida.
Em 1814, Luis XVIII outorgou uma
Constituição que reconhecia as liberdades de opinião, imprensa e culto, mas
concentrava o poder na Coroa[1].
O sufrágio continuou limitado com a preservação do voto censitário. A
Constituição francesa, serviu de modelo para outras nações que buscavam amenizar
os conflitos sociais que cresciam.
Apesar de ser um documento construído pela
Monarquia restaurada, a Constituição de 1814 apresentou muitos dos triunfos
permanentes da Revolução Francesa. Isso podia ser percebido pela comparação com
a Constituição de 1791. No entanto, a Constituição de 1814 não representou o fim
das desigualdades e das injustiças.
O
novo equilíbrio europeu
Embora em Viena estivessem representados
todos os Estados europeus, as principais decisões ficaram a cargo dos dirigentes
das grandes potências: Clemente Metternich, primeiro-ministro da Áustria;
Alexandre I, czar da Rússia; Robert Stewart, Visconde de Castlereagh,
primeiro-ministro inglês; e Frederico Guilherme III, rei da Prússia. Esses
lideres defendiam dois princípios básicos:
o da
legitimidade e o do equilíbrio do poder. O princípio da legitimidade determinava
que as dinastias reinantes no periodo pré-revolucionário deveriam ter de volta
seus tronos e os territórios que possuíam em 1789. O princípio do equilíbrio de
poder propunha que as potências vencedoras - Áustria, Prússia, Rússia e
Grã-Bretanha – teriam o direito de obter novas possessões fora da Europa e
manter aquelas que já controlassem, como recompensa pela participação na luta
contra o imperador francês.
Esse último princípio facilitou a anexação
de territórios pelas grandes potências europeias. Os governantes legítimos que
haviam sido depostos tiveram seus tronos restabelecidos, como ocorreu na França,
na Espanha, em Portugal, nos Estados Pontificiais e em Estados germânicos. O
Congresso de Viena trouxe muitos benefícios às potências que lideraram o
encontro.
Contudo, a Grã-Bretanha foi a grande
vitoriosa. O estabelecimento da livre navegação dos mares e rios e o projeto que
colocaria fim a escravidão contribuíram para o desenvolvimento das relações
comerciais e a consolidação do poderio marítimo britânico.
A
Santa Aliança
Em 1815, Rússia, Prússia e Áustria uniram-se
na Santa Aliança, um pacto politico-militar de caráter conservador. Criada para
garantir a realização das medidas aprovadas no Congresso de Viena, a Santa
Aliança dedicou-se a combater as revoltas liberais na Europa e a preservar o
sistema colonial, pois era favorável ao restabelecimento da autoridade
portuguesa e espanhola nas colônias americanas.
Mas, a tentativa de reformar o domínio
colonial das duas metrópoles acabou estimulando os movimentos de emancipação.
Essa questão contribuiu ainda para que a Grã-Bretanha, interessada no comércio
com as jovens nações americanas, não aderisse a Santa Aliança, embora a apoiasse
em muitos momento
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